A exposição diária da nossa pele à radiação solar tem consequências sobre a sua saúde e beleza, potenciando fenómenos como o fotoenvelhecimento e a hiperpigmentação, aumentando o risco de cancro da pele, promovendo a vasodilatação, com o aparecimento de vasos superficiais, reduzindo a firmeza da pele e até a imunossupressão cutânea.
Contudo, não pretendo afirmar que o sol é um vilão! Pelo contrário, o sol é essencial para a vida e tem efeitos benéficos inegáveis para a saúde, como por exemplo a regulação do ciclo do sono, produção de Vitamina D e efeitos positivos sobre o humor. Mas, quando falamos dos seus efeitos sobre a pele é importante compreender que, falar de radiação solar é falar de vários e diferentes tipo de raios que interagem de forma distinta com a pele.
Acredita que um protetor solar SPF50+ o protege contra todos os tipos de radiação? Responderei a esta pergunta mais à frente.
Entretanto convido o leitor a mergulhar neste artigo, pois acabará por formar as suas próprias conclusões, compreendendo melhor a radiação solar e de que forma ela vai afetar a sua pele!
Relativamente à prevenção do fotoenvelhecimento e também do desenvolvimento do cancro da pele, importa referir três tipo de radiação do solar: ultravioleta, visível e infravermelha.
Para quem quer saber mais sobre radiação: o sol emite diferentes tipos de radiação. Felizmente, grande parte dessa radiação não chega a atingir a Terra, sendo absorvida pela atmosfera, tal como a radiação cósmica e gama. A radiação ultravioleta C é eficientemente absorvida pela camada de azono.
Tipos de Radiação Solar: ultravioleta A e B
A radiação solar ultravioleta A e ultravioleta B (UVA e UVB) são os principais responsáveis pelo fotoenvelhecimento e pelo cancro da pele.
UVB
A radiação UVB tem um comprimento de onda mais curto do que a UVA. Isto significa que a UVB acaba por afetar a camada mais superficial da pele, ou seja, a epiderme. Assim, a maioria da radiação UVB é absorvida pela epiderme, enquanto a radiação UVA passa através da epiderme, atingindo a derme.
A radiação UVB é aquela que causa a queimadura solar, o “famoso” escaldão. De certa forma, é aquele tipo de radiação que nos alerta para o excesso de exposição solar, uma vez que este tipo de fenómeno tem consequências visíveis e sentidas.
Mas, os danos causados pelo tipo de radiação UVB vão além da queimadura e do eritema visível! A UVB tem mais citotoxicidade do que a UVA, causando mutações genéticas que podem resultar em cancro de pele. Contribui também para o fotoenvelhecimento da pele, a partir do aumento da atividade de algumas enzimas que vão acelerar a degradação das proteínas responsáveis pela firmeza e elasticidade da pele, como por exemplo o colagénio. Também há um aumento do stress oxidativo, que aumenta por formação de espécies reativas de oxigénio e, portanto, há todo um conjunto do acelerar do envelhecimento da pele causado pela radiação UVB.
UVA
A UVA afeta uma camada um pouco mais profunda da pele, a derme. É na derme que nós encontramos células muito importantes para a manutenção da juventude e saúde da pele, como os fibroblastos. E é por este motivo que a radiação UVA está, essencialmente, associada ao fotoenvelhecimento.
Assim, a radiação UVA aumenta o stress oxidativo, causando alterações sobre várias moléculas e células da pele, como os fibrolastos. Também causa um aumento da atividade de enzimas que aceleram a degradação do colagénio. Vários estudos demonstraram o aumento de diversos marcadores responsáveis pelo fotoenvelhecimento em pele exposta selectivamente a radiação UVA.
Na verdade, não podemos dizer que UVA e UVB são totalmente distintos ou que as suas ações são independentes. UVA e UVB potenciam mutuamente o aumento do stress oxidativo e a aceleração da degradação de colagénio, embora cada uma destas radiações seja, uma preferencialmente absorvida pela camada superficial e a outra pele camada mais profunda da pele.
A radiação UVA leva à pigmentação imediata da pele estimulando a produção de melanina, a partir de percursores já presentes na pele. A UVB é responsável pelo bronzeamento progressivo, com a ativação do melanócito. Recordemos aqui, por um momento, que não há bronzeado saudável. Justificar o bronzeamento da pele, argumentando que uma pele bronzeada está mais protegida, é uma falácia que podemos deixar para outro artigo.
Luz visível
A luz visível (LV) é absorvida por camadas mais profundas da pele, penetrando além da derme. Lembrar ainda que a luz visível não é apenas emitida pelo sol. Também estamos expostos à luz visível pela emissão de luz a partir das lâmpadas e até dos ecrãs dos portáteis, computadores e telemóveis.
A luz visível é uma radiação que está associada a problemas de pigmentação, como a hiperpigmentação inflamatória e o melasma, com consequências estéticas, especialmente nas pessoas com os fototipos mais elevados, ou seja, pele mais escura. Os mecanismo precisos começam agora a ser compreendidos e parecem atuar de forma sinérgica com a radiação ultravioleta.
Importa aqui recordar que alguns tipos de radiação visível podem ser usados com fins estéticos e terapêuticos, como por exemplo nos equipamentos de luz pulsada. Mas, aqui a radiação está altamente condicionada na sua fonte, bem como aplicação.
A componente de radiação azul da luz visível parece ter um contributo importante, mas o quanto os ecrãs dos dispositivos eletrónicos contribuem para estes fenómenos ainda é incerto. No entanto, o seu efeito cumulativo pode ter implicações a considerar. Atualmente, a maioria dos dispositivos eletrónicos já dispõe de filtros para reduzir a emissão de luz azul.
Note que a luz visível inclui vários tipos de radiação que vão interagir de forma diferente com a pele. Por exemplo, a luz visível azul, uma parte da LV com mais energia, está particularmente associada ao stress oxidativo.
Assim, no que respeita à luz visível, importa considerar a dose da exposição, bem como a energia (diferentes tipos de LV têm diferentes comprimentos de onda, logo diferentes energias). Diferentes tipos de radiação visível podem precipitar a pigmentação, bem como o envelhecimento prematuro da pele, mas com mecanismo de ação distinta.
Infravermelha
A radiação infravermelha (IV) é absorvida a um nível mais profundo que a luz visível ou as radiações UVA e UVB. Assim, esta forma de energia vai produzir um aquecimento nas moléculas da pele que, a partir de um certo ponto de acumulação, vão estimular, não só o fotoenvelhecimento, mas também o aumento do risco de desenvolvimento de cancro. A radiação IV, especialmente a mais próxima ao visível, é um fator que contribui para o fotoenvelhecimento.
A radiação IV causa uma sensação de calor. A exposição a fontes de emissão de IV de forma cumulativa, como os fornos, causa danos semelhantes aos da radiação solar. Também está estabelecida a ligação ao aparecimento de telangiectasias e pigmentação.
Tal como no caso da luz visível, importa referir que alguns tipos de radiação IV podem ser usados com finalidade terapêutica, como por exemplo a fotobiomodelação para acelerar a cicatrização. Mas, recordemos que se trata de uma utilização altamente especializada e condicionada tecnologicamente.
Por fim, realçar que para a radiação IV ainda não existem fotoprotetores específicos.
Conclusões
Regressamos agora à nossa pergunta de abertura deste artigo: Acredita que um protetor solar SPF+ o protege contra todos os tipo de radiação?
Recordemos que a designação SPF se refere, exclusivamente, à proteção UVB. De imediato, compreendemos agora que quando observamos um rótulo de um cosmético com a indicação SPF50+, isso não significa que estaremos protegidos contra todo o tipo de radiação solar nociva para a pele. Precisamos de mais do que uma boa proteção solar SPF+ para estar globalmente protegido contra os diferentes tipos de radiação solar.
Conclusão:
- A radiação UVB atinge a camada mais superficial da pele, a epiderme. É responsável pelas queimaduras solares e mutações genéticas do DNA (dímeros de pirimidina no DNA) associadas a cancro da pele.
- A radiação UVA atinge especialmente a derme. Está associada ao fotoenvelhecimento com danos sobre o colagénio e elastina. Causa stress oxidativo, com alteração de várias moléculas da pele, proteínas, lípidos e também material genético, este último contribui para o aumento de risco do cancro.
- A luz visível atua de forma sinérgica com a UV, contribuindo para o fotoenvelhecimento e aumento do risco de cancro. Contribui ainda para a hiperpigmentação. O contributo da luz azul emitida por ecrãs ainda não está perfeitamente estabelecido, mas é provável que o seu efeito cumulativo seja considerável.
- A luz infravermelha contribui de forma sinérgica com as restantes radiações para o fotoenvelhecimento e risco de cancro da pele.
- A luz visível e radiação infravermelha constituem cerca de 90% da radiação solar que chega à Terra. Quando a exposição é significativa e uma vez associada à radiação UV, ambas contribuem para o fotoenvelhecimento e aumento do risco de cancro da pele.
- Para uma verdadeira proteção solar de largo espectro precisamos de um protetor que vá além do índice SFP.
Termino este artigo com uma sugestão de leitura que completa este tema e o vai ajudar a escolher o seu próximo protetor solar:
Seja um Farmacêutico na hora de escolher e aplicar o protetor solar
Até breve!
Referências para quem quiser saber mais:
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