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A evolução científica e tecnológica dos materiais restauradores dentários tem sido incrível e a amálgama de prata está a cair em desuso.

A atual disponibilidade de materiais que imitam a estética dentária natural permite a aplicação de tratamentos menos agressivos. Do ponto de vista da conservação dentária são estes os novos “queridinhos” dos nossos consultórios.

O Alarmismo sem fundamento científico

A ideia de escrever sobre esta temática surgiu no seguimento de uma notícia triste. Há pouco tempo uma familiar muito querida, que por motivos de reserva de privacidade designarei por “Susana”, foi diagnosticada com cancro da mama.

Depois do diagnóstico, a Susana decidiu marcar uma consulta de Medicina Integrativa com uma conhecida médica no Porto, com o objetivo de saber como se cuidar melhor durante este período mais frágil. Nessa consulta foi-lhe dito taxativamente pela médica que a consultou, que a causa do cancro da mama do qual padecia foi o fato de ter restaurações em amálgama.

Esta é uma afirmação, no mínimo, irresponsável e sem suporte científico. A Susana ficou confusa e perturbada, mas felizmente conseguimos tranquilizá-la.

Como é possível a um profissional de saúde, que se deveria reger por elevados códigos de Moral, Rigor e Ética, numa única consulta e sem conhecer o historial de saúde do paciente ou até mesmo sem realizar qualquer tipo de exames e/ou estudo intensivo e profundo sobre a doença em causa, chegar a esta conclusão?

“Começando pelo início”: como funcionam as restaurações?

As restaurações são utilizadas para tratar as lesões provocadas pelas cáries, evitar que as bactérias da cárie se propaguem e infetem o interior do dente e devolver a sua anatomia original. Os materiais mais tradicionais usados nas restaurações são conhecidos pelas suas características de longevidade e resistência. Atualmente, este procedimento recorre a materiais dentários que valorizam mais a questão estética, apresentando-se com a mesma cor dos dentes naturais.

A restauração é uma intervenção muito simples: o primeiro passo é retirar o tecido cariado e amolecido do dente. Depois de o tecido contaminado ser removido fica uma cavidade no dente, que deve ser preenchida com o material dentário adequado para restaurar o dente à sua anatomia original, devolvendo a sua função.

Há uns bons anos atrás este preenchimento era feito maioritariamente com amálgama de prata, que é composta por um mix de materiais (liga metálica), contendo essencialmente prata e estanho. Estão também presentes outros metais em quantidades inferiores, onde se incluem o cobre, o paládio, o zinco e o polémico mercúrio.

A evidência científica no que respeita à toxicidade

Os estudos científicos sobre esta matéria remontam há mais de 20 anos e concluem sobre a elevada segurança e bom desempenho deste tipo de restaurações.

Um dos estudos clínicos mais interessantes é de 2006 e foi publicado no JAMA (Journal Of American Medical Association): crianças portadoras de restaurações dentárias em amálgama foram acompanhadas ao longo de 5 anos e os seus exames médicos foram comparados a um outro grupo de crianças sem restaurações desta natureza.

Tenho restaurações em amálgama, e agora?

Quem tem este tipo de restaurações não tem motivo para entrar em pânico.

A libertação de Mercúrio para o organismo é residual e não é maior que aquela à qual estamos expostos por motivos ambientais e alimentares.

Fazendo uma analogia com o nosso dia-a-dia: quem tem restaurações em amálgama não está mais exposto do que quando come salmão, um dos peixes que apresenta maiores concentrações de mercúrio e chumbo!

A pergunta que neste momento deve pairar na cabeça de todos os leitores é: ok, mas não será mais prudente retirar as minhas restaurações em amálgamas? A resposta é: não!

Começar também por dizer que potencialmente o momento de maior toxicidade da restauração em amálgama é o da sua remoção. A rotação das brocas que fazem o corte causam a libertação de Mercúrio em vapor. Por isso, quando fazemos a remoção destas restaurações temos todo um conjunto de cuidados para minimizar este risco.

Por outro lado, sempre que removemos uma restauração acabamos por remover também estrutura dentária.

Assim, considero que apenas devemos retirar essas restaurações se, por exemplo, as mesmas apresentarem infiltrações ou se já passou o tempo indicado para a sua substituição.

Muitos pacientes também têm solicitado a troca das restaurações em amálgama pelas restaurações em resina por motivos estéticos. E, a meu ver, este é também um motivo válido.

As restaurações em resina têm uma textura e cor semelhantes ao esmalte natural dos dentes e a amálgama destaca-se pela sua cor acizentadas e aparência metálica. Ou seja, as restaurações em resina apresentam um ganho estético considerável!

Conclusões

As restaurações em amálgamas são usadas há mais de 150 anos. O risco de toxicidade por exposição ao Mercúrio não está demonstrado e este fato resulta muito provavelmente da sua estabilidade química.

Do ponto de vista mecânico e da longevidade continua a ser um dos materiais com melhor desempenho em restaurações, particularmente em dentes posteriores.

Naturalmente, e com a disponibilidade de materiais estéticos que hoje temos, deixou de ser o material de primeira escolha.

Mas desengane-se quem acreditar que os novos materiais são totalmente isentos de riscos. Por exemplo, os materiais resinosos contêm substâncias que se não forem devidamente manipuladas podem ser citotóxicas. Infelizmente, não existem soluções perfeitas!

A mensagem mais importante que gostava de deixar é que não existe absolutamente nenhuma evidência científica a suportar as mensagens de alarmismo sobre as restaurações.

Se tiverem questões particulares sobre este tema podem deixar aqui nos comentários ou, em alternativa, enviar um email.

Para quem quiser saber mais, colegas e pacientes, deixo o link para um documento muito interessante publicado pela Comissão Europeia sobre a Avaliação da segurança da amálgama dentária e restauração dentárias alternativas:

http://ec.europa.eu/health/ph_risk/committees/04_scenihr/docs/scenihr_o_016.pdf

Até breve!

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Dr.ª Sónia Esteves

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