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Esta temática tem sido o mote para intensos debates, onde se pesam todos os prós e contras. Neste artigo vou tentar desmistificar mitos e analisar os dois pontos de vista sem preconceitos.

Atualmente, vivemos uma era de verdadeiro “boom” de informação e também de contra informação. O digital está ao alcance de todos e é muitas vezes na Internet que “tropeçamos” em várias páginas onde se advoga ora contra a utilização de pastas dentífricas contendo flúor, ora a favor.

Destacam-se duas correntes opostas sobre quanto o flúor é ou não prejudicial à nossa saúde:

  • Uma corrente que apelidaria de “tradicional” e que defende que o uso moderado de flúor não só não é prejudicial como pode ser um excelente aliado, quando utilizado de uma forma responsável e informada;
  • A outra corrente, muito em voga na Internet, defende que o flúor é muito tóxico e causador de muitos distúrbios no nosso organismo, alguns verdadeiramente assustadores:

– Redução do QI, particularmente em crianças;

– Fuorose esquelética e dentária;

– Risco de cancro, como por exemplo o osteossarcoma;

– Doenças da tiróide;

– Doenças neurológicas graves;

– Doenças gastrointestinais;

– Intoxicação aguda.Neste texto utilizo muitas vezes a medida ppm, que significa partes por milhão e que é equivalente a miligramas por litro (mg/l).

Como profissional de saúde obrigo-me continuamente a rever os meus conhecimentos científicos, para tentar dar a melhor e mais atualizada informação aos meus pacientes.

Levando em consideração as recomendações internacionais, irei focar os aspectos mais importantes que envolve o consumo de pastas dentífricas com flúor, para que cada um dos meus pacientes e todos os leitores disponham de informação objetiva que facilite a tomada de decisões.

A toxicidade do Flúor

Tal como para todos os elementos químicos, incluindo o Oxigénio, o Flúor também é tóxico a partir de determinada dosagem.

Existem 2 níveis de toxicidade:

– A aguda, que resulta de um dosagem única e alta de flúor;

– A crónica, que resulta da toma contínua de doses menores mas, ainda assim tóxicas, com os inevitáveis efeitos cumulativos.

A análise da documentação publicada atual sobre a toxidade do flúor sugere que a Dose Provável de Toxicidade (PTF) do Flúor começa em 5mg/kg de peso corporal. É esta a dose a partir da qual surge sintomatologia ou até mesmo condição de risco de vida e com indicação para cuidados médicos e hospitalares.

Por exemplo: numa criança com 20 kg de peso corporal, a ingestão de um tubo de pasta dentífrica de 100 g (a maioria das apresentações comerciais de pastas dentífricas vai de 75 a 125 g), contendo 1500 ppm flúor, pode significar a ingestão de 150 mg de flúor, o que, por sua vez, ultrapassa a dose tóxica provável. Um acidente desta natureza é considerado uma ermergência médica.

Alerta: a ingestão excessiva de flúor em situações de toxicidade crónica pode originar fluorose e alterações gástricas; em doses mais elevadas e em casos agudos, pode provocar náuseas, vómitos e convulsões; em doses letais, a morte.

As pastas contendo flúor

Para além do flúor, as pastas dentífricas contêm ingredientes com efeitos complementares à higiene: detergentes para efeito de espuma, ativos que reduzem a sensibilidade dentária, agentes branqueadores e ingredientes para controlo de inflamação gengival.

Do ponto de vista do seu conteúdo em flúor, as pastas dentífricas podem ser classificadas em grupos, facilitando deste modo a interpretação da informação disponibilizada:

– Com flúor com cerca de 500 ppm: dosagens adotadas por algumas marcas de dentífricos;

– Com flúor entre 1100 a 1500 ppm: dosagens da maioria das pastas dentífricas disponíveis no mercado livre – por exemplo, superfícies comerciais;

– Com flúor acima de 1500 ppm: estas dosagens usualmente só estão disponíveis mediante receita médica.

Mecanismo de ação dos fluoretos

O efeito do flúor na proteção do esmalte é essencialmente local, ou seja, tem que estar presente na cavidade oral para apresentar a sua eficácia.

Ele atua de duas formas na proteção contra as cáries: por um lado, torna o esmalte mais resistente à desmineralização. Em termos mais leigos, a cárie é a formação de cavidades por solubilização do esmalte. Mas quando o Fluor se incorpora no esmalte forma se uma estrutura nova a fluorpatite, que é uma forma mais resistente à solubilização e portante à cárie. A outra ação anti cárie resulta da ação anti microbiana sobre as bactérias causadoras de cáries.

Em termos mundiais, um dos estudos mais recentes, Cochrane Library, indica que apenas utilização de pastas com mais de 1000 ppm conseguem uma redução significativa da incidência de cárie. Este estudo indica ainda que concentrações entre 440 a 550 ppm de flúor não diminuem de forma significativa a incidência de cárie. Conclusão: se quisermos introduzir pastas com flúor para prevenção de cáries devemos de usar pastas com concentrações entre 1000 ppm e 1500 ppm de Fluor.

A minha opinião pessoal e profissional

Na minha vida pessoal e enquanto médica dentista, advogo a favor da eficácia e utilização de pastas dentífricas com flúor.

Sem esquecer que “O que distingue o remédio de um veneno é a dose.” (frase da autoria de Paracelso, Médico do séc. VXI.)

Mesmo no caso particular das crianças e mediante uma utilização cuidadosa e racional da pasta dentífrica com fluor, o seu benefício na prevenção de cáries é indiscutível na actualidade. Deixo-vos algumas recomendações para uma maior segurança na sua utilização:

– Pastas dentífricas com mais de 1000 ppm para redução do risco de cáries;

– Escovar pelo menos 2 vezes por dia;

– Desde logo instruir a criança que a pasta dentífrica não é para engolir;

– A decisão de introduzir uma pasta dentífica com fluor na higiene oral daa criança antes dos 2 anos deve ser assistida por um Médico Dentista que fará as devidas recomendações

– A quantidade para as crianças deve ser adaptada: para crianças com menos de 3 anos usar apenas um pequeno “esfregaço de pasta” ou a dimensão de um grão de arroz; para crianças dos 3 aos 6 usar uma quantidade correspondente ao tamanho de uma ervilha;

– Evitar pastas dentífricas demasiado “agradáveis ao sabor” para as crianças, introduzindo as pastas com flúor de uma forma vigiada e ensinando os cuidados devidos;

– Tratar a pasta dentífrica como se fosse um medicamento, mantendo-a fora do alcance das crianças.

No entanto, gostaria de realçar a importância de cada um decidir em consciência aquilo que considera ser o mais importante e o mais acertado para si. Por outras palavras, apesar de ser defensora da utilização de pastas dentífricas com flúor, aceito e respeito muito todos aqueles que são contra esse uso. É uma posição tão válida como a minha!

Assim, e para todas as pessoas e famílias que decidam pela não utilização de pastas com flúor, sugiro que encontrem mecanismos de compensação que permitam reduzir o risco de cárie, tais como:

  • Aumentar a frequência com visitam o seu médico dentista;
  • Reduzir a exposição aos alimentos cariogénicos;
  • Cuidados de higiene oral extra cuidadosos; ou seja, todos os procedimentos habituais devem de ser rigorosamente cumpridos.

E porque nem tudo o que existe na Internet é má informação, recomendo-vos estes links com informação útil:

https://www.mouthhealthy.org/en/az-topics/f/fluoride

https://www.ada.org/en/public-programs/advocating-for-the-public/fluoride-and-fluoridation/fluoride-clinical-guidelines

Até breve!

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